domingo, 22 de junho de 2014

XII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Jr 20,10-13
Rm 5,12-15
Mt 10,26-33

"Não tenhais medo!" (Mt 10,26).

O medo é uma realidade que nos acompanha desde a infância. Tínhamos medo de escuro, de ficar sozinhos, de grito, de monstros. Quando crescemos um pouco mais, passamos a ter medo de não ser aceitos pelo grupo ou pela pessoa amada, de se tornar objeto de riso ou rejeição. Os adultos têm medo do futuro, da morte, do desconhecido, do amanhã: o que iremos comer? O que vestiremos ou beberemos? Somos homens e mulheres marcados pela angústia e pelo medo.

Na primeira leitura, Jeremias experimenta o peso de suas palavras. Os homens que foram desnudados em seus pecados pela denúncia profética se rebelam não contra Deus, mas contra Seu arauto. Desejam apanhá-lo em falta e desforrar-se dele, inclusive aqueles que se diziam amigos. Mas o profeta renova sua confiança no Senhor, que está ao seu lado, e eleva sua oração: “Ó  Senhor dos exércitos, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração, rogo-te me faças ver tua vingança sobre eles; pois eu te declarei a minha causa” (Jr 20,12).

O profeta não se lamenta porque está sendo perseguido injustamente, nem culpa Deus por deixar que tal fato aconteça, mas percebe em tudo isso uma providência para seu crescimento e purificação. E ao mesmo tempo faz sua oração sincera, pede que o Senhor seja sua justiça porque sabe que não poderá nem deverá fazer vingança com as próprias mãos. O medo não domina o coração de Jeremias porque ele renova sua confiança no Deus que está a seu lado e lhe pede para falar.

No evangelho, Jesus fala aos seus discípulos que não devem temer os homens que irão lhes perseguir e até mesmo tirar-lhes a vida por causa do anúncio da boa nova (cf. Mt 9,36 – 10,27). Aquilo que foi dito ao pé do ouvido deve agora ser proclamado sobre os telhados (cf. Mt 10,27), sem medo nem vergonha, porque é Palavra de salvação (cf. 2a leitura). No período que o evangelho foi escrito, os cristãos começaram a sofrer fortes perseguições na Ásia e em outras partes. Pode-se elencar vários motivos para tal hostilidade, mas um dos principais era porque eles não aceitavam mais cumprir certos atos tidos como de civilidade: adorar os deuses do império, adorar o imperador. Os cristãos, devido sua fé, passaram a se recusar a cumprir estes atos porque iam contra a própria consciência. Isso causou a antipatia e hostilidade de seus concidadãos, gerando intrigas, brigas, perseguições veladas e públicas e, em alguns casos, a morte.

Sabemos que em alguns países é proibido proclamar o evangelho publicamente e os cristãos continuam sendo hostilizados, perseguidos e mortos. Basta se procurar o noticiário da Índia, Iraque, China e outros para ver o que pode acontecer com um cristão autêntico. Mas em nações que se dizem democráticas e livres para todas as religiões existe uma tentativa sutil de calar a boca dos cristãos, de relegar a fé a uma dimensão unicamente privada e não querer que se manifestem como voz política, como se os cristãos também não fosse cidadãos. Ele querem que rezemos nas Igrejas, façamos a caridade para com os pobres, mas não querem que perguntemos por quê existem pobres, ou defendamos o direito do nascituro. É algo tão forte que alguns católicos preferem não se posicionar em tais debates, ou mesmo começam a pensar como eles.

Meus irmãos e irmãs, o verdadeiro cristão sempre será perseguido porque incomoda aqueles que estão nas trevas do erro, da ganância, da violência e do poder. É importante, porém, que o motivo de incômodo seja evangélico e não infantil ou irracional.

Recordemos que no evangelho Jesus nos disse três vezes: Não temais (cf. Mt 10,26.28.31). Não temam porque os perseguidores podem nos tirar esta vida mas não aquela que é eterna (cf. Mt 10,28). Não temam porque o Senhor estará sempre conosco no meio das tribulações  e de todo mal Ele tirará um bem para nós (cf. Mt 10,28-31). Não temam em declarar-se a seu favor publicamente porque Ele também se declarará ao nosso diante do Pai que está no céu (cf. Mt 10,32).

Em silêncio peça o destemor para vivermos e testemunharmos o evangelho da graça.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana

Nenhum comentário:

Postar um comentário