domingo, 27 de abril de 2014

II DOMINGO DA PÁSCOA - ANO A

At 2,42-47
1Pd 1,3-9
Jo 20,19-31

Vimos o Senhor! (Jo 20,25)

    Há oito dias celebrávamos a páscoa do Senhor, sua passagem da morte para a vida, sua ressurreição. Nele podemos celebrar a nossa páscoa, passagem de uma situação de morte (pecado) para uma realidade de vida, a reconciliação com Deus, a comunhão com o Senhor, a verdadeira paz. Mas vejamos o que as leituras propostas pela Igreja nos ensinam.
A riqueza do evangelho não permite que aprofundemos todos os aspectos, por isso escolhemos três. As duas vezes que Jesus aparece aos discípulos acontece no dia depois do sábado, o primeiro da semana. Para o judeu esse era um dia como os outros, o primeiro dia de trabalho. Mas os cristãos perceberam que a escolha de Jesus tinha uma intensão clara: tornar esse dia o herdeiro do sábado do Antigo Testamento e fazê-lo ainda mais santo. Por isso, começamos a chamá-lo de domingo, "o dia do Senhor" (dies dominica), e nos reunimos nesse dia em assembleia litúrgica (missa ou celebração da Palavra). O domingo é para nós a páscoa semanal, o momento que nos abstemos daquilo que fazemos nos outros dias da semana para encontrar Jesus Ressuscitado e receber dele a paz, a alegria, o Espírito Santo e a missão. Precisamos olhar para nosso domingo e nos perguntar: ele está sendo um dia santo? Rompemos com nosso ciclo de atividades cotidianas e nos dedicamos a Deus? Ou nossa ambição e preocupação não nos permitem ter tal repouso? Como nos lembra o documento de João Paulo II sobre o domingo (Dies Domini), o descanso não serve apenas para a dimensão de fé, mas também para nos dedicar mais à família, ao lazer e à cultura. É um dia diferente de todos os outros porque nele Jesus ressuscitou e apareceu aos discípulos, por isso precisa se tornar o dia por excelência não só da fé mas também da dignidade do homem e da mulher. Nele não existe patrões e trabalhadores, mas apenas homens e mulheres livres que creem no Cristo.
Outro aspecto importante do evangelho de hoje é o fato de Jesus se manifestar sempre no meio de seus discípulos: “... pondo-se no meio deles” (Jo 20,19.26). Tomé não estava reunido. Tenho a tentação de dizer que ele ficou em casa assistindo televisão, descansando ou fazendo outra coisa menos importante que participar da celebração dominical, com a desculpa de que Deus está em todo lugar e tanto faz rezar na Igreja ou em casa. Deus está em todo lugar mas para o Cristão ele está de forma especial na comunidade reunida, na assembleia que celebra o dia do Senhor. Essa não é uma afirmação da Igreja para ter mais pessoas em suas celebrações, mas é uma escolha do próprio Jesus;  além do evangelho de hoje recorde-se da passagem de Mt 18,20: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles”. Lembre-se ainda que Paulo nos ensinou que Jesus é a cabeça e nós o corpo de Cristo, só podemos ter acesso ao Senhor se permanecemos no seu corpo que é a Igreja, comunidade cristã.  Retornado ao evangelho podemos afirmar que Tomé só conseguiu encontrar com o Ressuscitado quando permaneceu unido a seus irmãos em assembleia, oito dias depois. A primeira leitura vai aprofundar esse tema mostrando o que a comunidade precisa fazer e ser para se tornar verdadeiramente cristã:
Os que se haviam convertido eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações (…) Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum (At 2,41-44).
O terceiro aspecto que desejo destacar é o testemunho dos discípulos: “Vimos o Senhor!” (Jo 20,25) disseram com muita alegria a Tomé. Quem se encontra com o Ressuscitado descobre uma nova vida, uma grande alegria, uma paz que todos os homens desejam e procuram mas não conseguem encontrar fora de Deus. Tudo isso que o cristão experimenta não pode ser guardado apenas para ele, como um tesouro que pode se acabar. Na verdade acontece o inverso, quanto mais se partilha esse tesouro com outros, mais ele cresce. A reação que Tomé teve diante do anúncio não foi diferente da que muitos homens e mulheres apresentam: para crer preciso de provas racionais ou sensíveis; prove que Deus existe! Diante de tais reações, algumas até violentas, somos tentados a silenciar o testemunho. Mas isso não é virtude da prudência mas medo e respeito próprio. O anúncio pascal, “Cristo ressuscitou e disso nós somos testemunhas”, precisa continuar ecoando no mundo, mesmo que muitos rejeitem. Já aconteceu outras vezes, aqueles que mais se opuseram ao evangelho se tornaram grandes evangelizadores: além de Tomé que passa de incrédulo a fiel (cf. Jo 20,28-29) pode-se recordar de Paulo, um perseguidor que passou a anunciar a Boa Nova (At 9,1-18). Continuemos testemunhando nossa fé aos homens e mulheres descrentes porque essa é a forma normal que Jesus se utiliza para manifestar, através do nosso anúncio.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana


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