sábado, 29 de março de 2014

IV DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

1Sm 16,1b.6-7.10-13a
Ef 5,8-14
Jo 9,1-41



Eu sou a luz do mundo! Crês nisto? (cf. Jo 9,5.35)

Continuamos nosso caminho de preparação para o batismo dos catecúmenos e, consequentemente, de renovação do nosso. O longo evangelho de hoje nos ajudará a refletir sobre outro elemento do batismo: a luz.

A riqueza do texto não poderá ser explorada toda, precisamos nos deter nos elementos mais importantes. Em primeiro lugar, o encontro de Jesus com aquele cego de nascença, o encontro da Luz do mundo com alguém que se encontrava nas trevas desde seu nascimento. Após o gesto insólito de passar lama nos olhos daquele homem, o Mestre manda lavar-se na piscina de Siloé, que significa “Enviado”. É no momento que ele se lava nas águas que passa a enxergar. A Igreja leu e lê essa passagem à luz do sacramento do batismo. O banho nas águas do batismo concede aos cegos de nascença, ou seja, nós que somos pecadores, a visão, a luz. Isso é um dom divino, uma dádiva que precisa ser acolhida com gratidão e fé. É por isso que no dia do batismo cada um recebe uma vela acesa no círio e escuta o padre dizendo: "Deus tornou vocês luz em Cristo. Caminhem sempre como filhos da luz, para que, perseverando na fé, possam ir ao encontro do Senhor com todos os Santos no reino celeste"[1]. Esse dom, porém, pressupõe fé em Cristo.

Após a cura, percebemos 6 cenas que narram diversos encontros e questionamentos, parece um verdadeiro processo em tribunal: os vizinhos e o ex-cego (vv. 8-12); os fariseus e o homem curado (vv. 13-18a); os pais do cego e as autoridades judaicas (vv. 18b-23); o curado e os fariseus (vv. 24-34); Jesus e aquele que passou a enxergar (vv. 35-39); Jesus e o fariseus cegos (vv. 39-41). Por um lado, os fariseus progressivamente vão pressionando o homem curado até acusá-lo de discípulo de Jesus e de pecador. (v. 28.34). A sentença é a expulsão da sinagoga (cf. v. 34).

Por outro lado, existe um outro processo mais importante: o de Jesus. Diante de todos os questionamentos dos vizinhos e dos fariseus, o ex-cego começa a se comprometer cada vez mais com aquele que lhe curou. Parece até que ele vai crescendo nas suas profissões de fé: "Aquele homem chamado Jesus..." (v. 11); "como pode um pecador fazer tais sinais?" (v. 16); "É um profeta" (v. 17); "se esse homem não viesse de Deus, não poderia fazer nada" (v. 33). Até o momento que ele encontra o Filho do Homem e faz sua adesão total a Ele: "'Eu creio, Senhor!' E prostrou-se..." (v.38). É então Jesus emite a sentença: "Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem, vejam, e os que veem se tornem cegos" (v. 39). Aquele homem foi absolvido por Jesus, ele passou das trevas para a luz, da incredulidade para a fé em Cristo. A adesão à pessoa de Jesus foi total: uma profissão de fé e o ato mais profundo de adoração, o jogar-se no chão. É precisamente este caminho que nós, batizados na infância, precisamos fazer: um crescimento na fé, na luz que Cristo nos deu no batismo!

O processo não acabou. A sentença de Jesus mostrou que os fariseus se condenaram pelo seu endurecimento cada vez maior contra aquele que era cego e contra o próprio taumaturgo. E eles percebem: "Por ventura, também nós somos cegos?" (v. 40). Se vocês se reconhecessem cegos, diz o Senhor, como este homem, vocês poderiam ser iluminados pela minha luz. Mas como vocês acham que veem muito bem, permanecem nas trevas, no pecado, não podem ser iluminados (cf. v. 41)

Meus irmãos, recebemos nosso batismo quando pequenos, mas nossos pais se comprometeram de nos dar uma educação religiosa consistente: ensinar as orações, os mandamentos de Deus e da Igreja, ler partes do evangelho para nós e, principalmente, nos trazer para celebrações dominicais. Se eles tivessem feito isso com esmero, seria bem mais fácil o dom da fé ter nascido e se desenvolvido nos nossos corações. Pena que muitos de nós que aqui estamos não receberam essa educação que nossos pais prometeram no dia do sacramento. Por isso, claudicamos na fé. Precisamos, então aproveitar esse tempo de quaresma para fazer o caminho que o cego curado fez. A luz de Cristo que nos foi dada no batismo precisa crescer dentro de nós, e ela cresce graças à escuta da Palavra que alimenta nossa fé e nos conduz à prática da caridade.

Agora falo especialmente aos pais. Ofereçam aos seus filhos uma sólida educação religiosa para que eles também possam encontrar pessoalmente Jesus e receberem o dom da fé que ilumina toda a vida da pessoa. É essa a melhor herança que vocês podem deixar para seus filhos: a educação religiosa cristã.

Por fim, precisamos aprender com o cego curado o destemor no testemunho. Ele não teve medo de dizer o que tinha acontecido com ele, nem de tomar o partido de Jesus, mesmo sem conhecê-lo bem, e sofreu as consequências dessa sua postura. Muitos de nós temos vergonha ou medo de, quando necessário, assumir publicamente nossa fé. Preferimos nos esquivar ou nos esconder por trás de justificativas pífias, mas a verdade é que nos parecemos com os pais do cego: tinham medo das consequências negativas que que os atingiriam se testemunhassem publicamente Jesus (v. 22). Além do medo e da vergonha, nossa falta de testemunho público vem pela nossa despreparação intelectual. Não conhecemos nossa fé ao ponto de podermos oferecer a quem perguntar, ou quando precisar, suas razões.

Tudo que falamos nos indica uma urgência: precisamos crescer na fé! Seja na fé-confiança em Jesus, seja na fé-adesão às suas palavras.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana





[1] Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), n. 226.

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