quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

IV DOMINGO DO ADVENTO ANO A

“Deus está conosco” (Mt 1,23).


Estamos no quarto e último domingo do advento, a última vela da cora foi acesa. Isso significa que o Natal do Senhor está às portas e temos pouquíssimos dias para nos preparar para sua vinda humilde. As leituras de hoje falam do mistério deste acontecimento: Deus, em Jesus Cristo, se fez Emanuel, Deus Conosco! O que isso  significa?
Deus estava com o homem e a mulher desde a criação do mundo, mas após o pecado original o diálogo entre eles se tornou difícil, realizado através da mediação dos profetas em momentos especiais. Existia uma distância entre o Criador e sua criatura mais amada e a aliança que os unia era precária, o pecado do homem muitas vezes a quebrava[1].
Em Cristo Deus entrou pessoalmente na humanidade, se fez um de nós para falar-nos ao coração e salvar-nos dos nossos pecados. Não como alguém que está fora, nos observando como expectador impassível, mas como alguém que entrou na nossa história e dentro dela nos abraçou e nos reconciliou com o Pai. A nova aliança realizada por Jesus é nova e eterna porque as duas partes – Deus e homem – são uma pessoa indivisível: Jesus Cristo[2].
O título "Emanuel" provém de Isaias, como ouvimos na primeira leitura. Acaz, rei de Judá, está ameaçado pelos governantes de Aram e de Israel e, por isso, a dinastia de Davi, herdeira de tantas promessas messiânicas (cf. 2Sm 7,12-16), está em perigo, juntamente com o povo (cf. Is 7,1.4-6). O rei de Judá em vez de pedir o auxílio de Deus, prefere imolar sacrifícios aos ídolos (cf. 2Rs 16,3-4) e buscar aliança com os poderosos da época, a Assíria (cf. 2Rs 16,7). Apesar do pecado deste homem Deus continua fiel e promete um descendente que esteja à Sua altura, alguém que fará parte do povo e trará Deus para o meio dele: um emanu-El (conosco-Deus).
O evangelho é bem claro, a profecia se cumpre com a concepção em Maria pela ação do Espírito Santo, mas José precisa participar de tudo isso para que o menino seja descendente de Davi. De fato era o homem que colocava o nome na criança (cf. Mt 1,21) e com o nome se concedia àquele rebento uma família, uma ascendência. Maria não pertencia à tribo de Judá, de onde devia vir o Rei-Messias, mas José. Sem ele a profecia de Isaias não estaria completa. Sim, a virgem teria concebido mas a criança não seria descendente de Davi. Com o mistério da encarnação, Deus entra decididamente na nossa história e precisa de nós para realizar seu plano de salvação. Que mistério impressionante!
José, como homem ficou desconcertado ao ver sua noiva[3] grávida e começou a pensar o que devia fazer. A lei mandava denunciar publicamente que aquela mulher não era virgem já que estava grávida e sem a participação do seu prometido esposo (cf. Dt 22,20-21). Isso implicaria o apedrejamento da mulher. O evangelho de hoje diz que José era justo, e sua virtude ia além do cumprimento da lei, ele amava a Deus e a sua noiva, não desejava que nada de mal lhe acontecesse mesmo com toda aquela situação desconcertante. Para fazer a vontade de Deus acima de tudo - o amor - prefere abandonar Maria sem dizer nada a ninguém, assim poderiam pensar que o filho era dele mas que não teve coragem de assumi-lo, assim nada aconteceria com sua amada.
Enquanto José pensava e decidia tudo isso em seu coração, discernindo cada coisa a partir da sua compreensão da Palavra e da vida, algo acontece. Deus envia um anjo ao varão para anunciar-lhe o mistério que Maria traz em seu ventre e dizer-lhe que ele precisa participar de tão grande dádiva dando seu nome ao menino, ao Menino Deus.
Quanto tempo perdemos pedindo sinais do céu para descobri a vontade de Deus para nós. Ficamos imóveis, paralisados, passivos, esperando por algo que já aconteceu. Deus já nos falou tudo o que precisávamos ouvir e sua revelação está na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, mas tudo pode ser resumido em uma única palavra: Jesus. Você que me escuta e está preocupado com a vontade Deus para sua vida, não peça sinais nem oráculos, ouça a Boa Nova com atenção. Com sua inteligência ilumine a sua vida com o que Deus lhe fala nas Sagradas Escrituras e na pregação da Igreja, e decida o que fazer. O  Senhor lhe deu inteligência e vontade para usá-las especialmente nestes momentos. Foi isso que José fez. Mas a inteligência de José para discernir a vontade de Deus e sua vontade para decidir pelo que considerava o melhor não estavam fechadas para o diferente. É isso que precisamos aprender com esse homem justo.
Jesus ainda é Deus Conosco hoje? Ou o foi apenas do período da sua concepção até a morte em cruz? No final do evangelho de Mateus ouvimos o Ressuscitado falando para seus 11 discípulos-apóstolos: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28, 20). Sim, ele está ainda conosco. A sua ressurreição inaugurou uma maneira nova de estar no nosso meio, uma forma espiritual e real, ele sempre será nosso contemporâneo, especialmente quando a Igreja estiver reunida para oração e para a missão. Aquele que é Emanuel na concepção é ainda mais Emanuel a partir da ressurreição.
Precisamos agora fazer uma última pergunta: Jesus está conosco, isso é uma certeza que ninguém pode nos tirar, mas nós estamos com ele? É verdade que nada pode nos separar de Deus: nem tribulação nem, angústia, fome, perigo, espada... Em tudo isso somos vencedores graças àquele que nos amou (cf. Rm 8,35-39). Existe porém, alguém que pode nos separar Dele: nós mesmos, ou melhor, eu. Podemos virar as costas para Ele e viver como se não tivesse vindo nos visitar, como se não estivesse conosco e nos falasse[4]. Podemos inclusive manter práticas religiosas, pensar nas coisas de Deus, dizer que queremos fazer Sua vontade mas permanecemos fechados nas nossas verdades e nas naquilo que decidimos, sendo o contrário de José.
Jesus será sempre Deus Conosco, mas será que queremos estar sempre com ele? Nestes últimos dias intensifiquemos nossa oração para pensar sobre isso e preparar sua vinda.



Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba





[1] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 26.
[2] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 26-27.
[3] Aquilo que nós chamamos de noivado era na verdade a primeira etapa do casamento judaico, um compromisso entre os pretendentes e suas famílias que só poderia ser desfeito por um ato de repúdio (cf. Mt 1,19). Neste primeiro momento o casal não ainda não podia conviver como marido e mulher, por isso muitas traduções bíblica preferem utilizar a palavra noivado (cf. Mt 1,18, nota e).
[4] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 28.

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