sábado, 7 de dezembro de 2013

IMACULADA CONCEIÇÃO ANO A


“Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1,37).


No período do advento temos a alegria de celebrar a solenidade da Imaculada Conceição de Maria, uma festa já conhecida desde o século XI mas que foi proclamada como dogma  em 1854 por Pio IX com as seguintes palavras:
A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo (...) foi preservada imune de toda mancha do pecado original[1].
A fé da Igreja Católica proclama que Maria não foi manchada pelo pecado original. Adão e Eva, criados por Deus sem pecado, foram tentados na sua obediência à palavra do Senhor porque desejavam ser como Ele, conhecedores do bem e do mal (Gn 3,1-6), ou seja, dizer por si mesmo o que é bom e o que é mal, independente ou até indo contra o seu Criador. Essa desobediência original trouxe sérias consequências para o casal: concupiscência da carne (Gn 3,7), medo e vergonha de Deus (Gn 3,8-10), desequilíbrio na relação entre homem e mulher (Gn 3,12.16), aumento das dores e dos sofrimentos na vida de ambos (Gn 3,16.17-19) e, finalmente, a morte (Gn 3,22)[2]. Esse pecado foi tão grave que suas consequências foram sentidas por todos os homens e mulheres de todas os lugares e tempos. Cada um de nós é concebido com uma ferida, uma tendência ao mal, que a Igreja, inspirada nas palavras de Paulo em Rm 5,12.19, chama de pecado original. Ele é denominado “pecado” por afinidade porque ele é “contraído” e não “cometido”, um estado e não um ato[3]. Isso explicaria, em grande parte, nossa tendência ao mal.
Maria foi a única mulher concebida sem essa ferida original graças aos méritos de Cristo. Para que Deus Fez isso? Para prepará-la antecipadamente para ser mãe digna do seu filho. Esta obra maravilhosa do amor de Deus por nós, a Imaculada Conceição de Maria, precisava, porém, o sim dela: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). É graças a este sim que tivemos acesso ao Messias profetizado, o Salvador, o Cordeiro sem mancha, que tira os nossos pecados[4]. Por isso, é muito conveniente celebrarmos a Imaculada Conceição no período do advento e, antecipando a alegria do Natal, cantarmos o glória pelas maravilhas que ele fez nesta mulher por nós.
Maria foi preservada da mancha do pecado também por causa de outro motivo: daquilo que seremos. Na segunda leitura ouvimos: “Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis [imaculados] sob o seu olhar, no amor”(Ef 1,4). Nós também somos chamados a nos tornarmos imaculados! Nascemos com o pecado original, mas podemos ser irrepreensíveis! Como?
Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra aquela que ele purifica pelo banho da água. Pois ele quis apresentá-la a si mesmo toda bela, sem mancha [imaculada] nem ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito (Ef 5,25-27).
A Igreja é o grande projeto de Deus para formar homens e mulheres santos, imaculados. Uma humanidade que possa comparecer diante Dele sem medo nem vergonha, como sentiram Adão e Eva após o pecado. Uma humanidade que Deus possa amar e unir em comunhão Consigo, mediante o Seu Filho, no Espírito Santo[5]. Daqui a pouco iremos rezar no prefácio de hoje: Em Maria, “nos destes as primícias da Igreja, esposa de Cristo, sem ruga e sem mancha, resplandecente de beleza”. Maria é o início da Igreja, a primeira realização do projeto de Deus. Ele pode fazer que homens e mulheres pecadores, orgulhosos, desobedientes, se tornem santos, porque “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37)[6]. E isso é feito graças ao batismo, à confissão, à eucaristia, à Palavra proclamada, à vida comunitária...
Neste trabalho de purificação e de recuperação da imagem de Deus em nós, Maria  aparece como modelo e advogada da graça. Ela não é apenas uma meta a ser atingida porque foi a criatura que melhor viveu as palavras de Jesus, mas também alguém que intercede por nós e trabalha conosco para que Cristo seja formado em nós. Mais uma vez o prefácio nos ajuda a entender essa missão da Mãe Imaculada: “Escolhida, entre todas as mulheres, modelo de santidade e advogada nossa, ela intervém constantemente em favor de vosso povo”.
Como essa festa, cravada no coração do advento, é importante para vivermos o tempo do advento, preparação para vinda do Senhor! Com Maria nos preparamos para recebe-lo no Natal; com ela nos preparamos para sua vinda gloriosa; e ainda, com a Imaculada, acolhemos na fé e na caridade a Jesus que vem em cada pessoa humana[7], porque é somente a misericórdia pelos mais necessitados que nos tornará imaculados[8]!



Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba



[1]  DH 2803, apud: Catecismo da Igreja Católica, n.  491.
[2] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n.  400.
[3] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n.  404.
[4] Cf. Prefácio da missa de hoje.
[5] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 347.
[6] Cf. R. Cantalamessa, La Parola e la vita. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 347.
[7] Cf. Prefácio do Advento IA.
[8] Quando se ouve a palavra “imaculado(a)” normalmente vêm à nossa mente um grau de perfeição angelical (mas somos homens e mulheres!), ou o retorno a uma suposta pureza infantil perdida. Deus deseja nos fazer sem manchas não neste sentido, mas no sentido daquilo que nos torna semelhantes a Ele, o amor. E não qualquer tipo de amor mas do amor de misericórdia, aquele que o Senhor demonstra em relação aos pecadores. De fato, o “Sede perfeitos…” de Mt 5, 48 é paralelo ao “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” de Lc 6,36. 

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