sexta-feira, 1 de novembro de 2013

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

“Trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão” (Ap 7,9).

Hoje a Igreja celebra a festa de todos os santos, aqueles que já passaram por essa terra e agora gozam da presença de Deus e cantam sua glória naquela realidade que chamamos céu.
Desde o segundo século, os cristão começaram a celebrar aqueles que tinham sido perseguidos e mortos por causa da fé em Jesus, estes homens e mulheres eram chamados mártires, testemunhas. Esta festa foi celebrada em Antioquia no primeiro domingo depois de Pentecostes, desde o IV século. Ela foi levada para a Igreja de Roma no século VI, e no ano de 609 foi transferida para o dia 13 de maio devido a dedicação do antigo Panteão (templo de todos os deuses) como Igreja de Nossa Senhora e todos os mártires, pelo Papa Bonifácio IV. Gregório III (731-741) a transferiu para o dia 1o de novembro e Gregório IV, no ano de 835, a declarou uma festa universal[1].

Quem são os santos?
Uma resposta bem simples seria: são aqueles que estão no céu. Esta resposta, porém, precisa ser explicada e aprofunda. Usemos para isso a primeira leitura. No livro do Apocalipse, João nos diz:
Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão. Todos proclamavam com voz forte: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”
Eis ai os santos. Uma multidão incontável, não só de católicos guaiubenses mas homens e mulheres de todos os povos, línguas e nações. Eles se encontram diante do trono de Deus e do Cordeiro, naquele estado que popularmente chamamos de céu porque céu é o encontro com Deus. Estão de pé, ou seja, ressuscitados, e trazem vestes brancas e palmas na mão. Naquela época, a palma se dava aos atletas vencedores das competições, logo aquela multidão é composta de vencedores. A roupa no Apocalipse mostra aquilo que a pessoa é interiormente, sua vida ética. Estes são irrepreensíveis, mais adiante vamos descobrir o motivo dessa retidão moral. Os santos cantam a glória de Deus e  reconhecem que somente a Ele e ao Cordeiro pertencem a salvação, ela não é fruto somente das próprias decisões e força[2].
Estes são os santos na sua meta final, mas como eles chagaram ai?
Será ainda o livro do Apocalipse que nos ajudará nesta descoberta. Antes da cena descrita acima, João viu um anjo que vinha do oriente (cf. Ap. 7,2), ele trazia a marca do Deus vivo e precisava sinalar a fronte dos servos de Deus com Seu nome e o nome do Cordeiro (cf. 14,1) para que as pragas que viriam (os 4 anjos do v. 2) não lhes atingissem. Lembramos imediatamente das pragas do Egito, especialmente a última, que foi precedida pela marca que os judeus fizeram em suas portas com o sangue do cordeiro pascal. Aquele marca impedia que a morte entrasse em suas casas e matasse seus primogênitos, o que não aconteceu na casa dos egípcios (cf. Ex 12,21-23). O sinal, agora, é colocado na fronte de cada um como tinha acontecido com os habitantes de Jerusalém que não tinham se manchado com a idolatria, segundo o que nos conta Ez 9,4.[3]
O número dos que tinham sido marcados é 144 mil, outro símbolo. Os v.v. 5-8, que não são lidos na liturgia de hoje, vão dizer que são 12 mil de cada uma das 12 tribos dos filhos de Israel. A soma corresponde ao número indicado acima. Representa todo o povo fiel a Deus do Antigo Testamento (12 tribos) e do Novo Testamento (12 apóstolos) multiplicado por mil, o número que o último livro da Bíblia relaciona ao reinado de Deus e do Cordeiro sobre a história (cf. Ap 20,4.6). Podemos afirmar que os 144 mil são os santos e santas enquanto vivem sobre a terra, lutam contra o mal, fazem o bem e são fieis a Deus. Tudo isso fica mais claro e simples na pergunta-resposta que um dos anciãos faz a João: Quem são estes e de onde vieram (cf. Ap 7,13)? “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). A grande tribulação são todas as dificuldades e sofrimentos da história que os servos de Deus passaram permanecendo, porém, fieis ao Senhor. Esta fidelidade é expressa no fato de suas roupas estarem brancas, não porque nunca foram manchadas mas porque foram lavadas no sangue do Cordeiro, na adesão ao Cristo morto e ressuscitado que perdoa nossos pecados e nos dá vida nova[4]. Poderíamos dizer que a multidão dos homens e mulheres que procuram ser fieis a Deus só conseguiram isso graças à misericórdia divina manifestada em Jesus Cristo.
Os santos não são pessoas que nunca pecaram, que nasceram com um gene único, ou perfeitas. São homens e mulheres como você e eu, pecadores que conheceram o amor de Deus e a boa nova da salvação trazida por Jesus Cristo. Gente que passou a confiar sua vida a Deus e por isso deseja viver com Ele sempre, deixando de lado tudo o que possa ser empecilho para esta comunhão. Quando se faz isso descobre-se que viver com Deus traz também felicidade, bem-aventurança (cf. Evangelho de hoje), não porque o cristão nunca vai sofrer, será sempre bem tratado, ou terá muito dinheiro, como algumas denominações cristãs apregoam. Os santos descobrem que se estão com Deus podem transformar a pobreza, a aflição e a perseguição em bem-aventurança.
Todas as vezes que pergunto nesta assembleia quem deseja ir para o céu, todos levantam a mão. Agora pergunto de forma diferente: diante das leituras de hoje, quem deseja ser santo aqui na terra para um dia desfrutar do encontro alegre e definitivo com Deus Pai, Filho e Espírito Santo?



Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba





[2] Cf. G. Biguzzi, Gli splendori di Patmos. Comento breve all’Apocalisse. Paoline: Milão 2007, pp. 69-73.
[3] Cf. G. Biguzzi, Gli splendori di Patmos. Comento breve all’Apocalisse. Paoline: Milão 2007, pp. 69-73.
[4] Esta adesão à morte e ressurreição de Cristo que lava nossa vida dos pecados e nos faz novas criaturas é especialmente o batismo, mas também o sacramento da reconciliação enquanto renovação do batismo na dimensão do perdão.

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