quinta-feira, 24 de outubro de 2013

XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


Pois quem se humilha será elevado (cf. Lc 18, 14).

No domingo passado falamos sobre a oração cristã e descobrimos que ela precisa ser perseverante para poder alimentar e fazer crescer a fé. Descobrimos também que o mais importante não é o que se fala mas com Quem se fala. Hoje vamos dar um passo a mais e descobrir que existem dois tipos de oração.

Jesus contou uma parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para rezar, um fariseu observante e um publicano. Já sabemos que o coletor de impostos era considerado um pecador público porque se colocava do lado do Império Romano para cobrar as taxas devidas e indevidas, o que ele cobrava a mais ficava para si. Ele explorava o povo e roubava dos pobres. Podemos dizer que Jesus apresenta a oração de um homem justo diante dos outros e de um “pecador  descarado”, e coloca ambos em paralelo.
O justo rezou de pé dando graças a Deus pela sua retidão: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’” (Lc 18,11-12). Percebe-se que o sujeito dessa prece é um grande eu, este homem confia em si mesmo, na sua prática da lei. Esta sua característica se tornava pior porque ele desprezava todos aqueles que não tivessem a mesma estatura moral. Nos encontramos diante do exemplo de uma oração que deixa de ser encontro com Deus e passa a ser encontro consigo mesmo. Ela possui a fórmula de uma oração dirigida ao Senhor mas o destinatário dela é o próprio eu, uma exaltação de si mesmo diante de si e dos outros. Lembrem-se que a oração do judeu era feita em voz audível.
O pecador manteve-se à distância e sem levantar a cabeça batia no peito dizendo: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!” (Lc 18,13). O sujeito da prece não é um EU, mas Deus. O homem reconhece sua condição de pecador, não se preocupa com o que os outros pensam ou dizem dele, deseja apenas o perdão do Senhor. Essa é uma oração verdadeira, um diálogo entre o indivíduo na sua condição frágil e pecadora e Àquele que pode salvá-lo.
Jesus termina dizendo que o pecador voltou para casa justificado e o fariseu não porque quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado (cf. Lc 18,14). Ser justificado significa ser perdoado (salvo) e humilhar-se é reconhecer sua condição de necessitado diante de Deus, a mesma de todos indivíduos diante do seu Criador e Salvador.
A oração é sempre reflexo do que a gente pensa e vive, das nossas vitórias e derrotas, das fraquezas e virtudes, a oração perfeita não existe, existe apenas a oração de quem está caminhando. Esta prece, por mais falha que seja, é sempre um grito de socorro dirigido a Deus que pode e quer, com nosso consentimento dado pela oração, nos salvar. Por isso, ela transforma a pessoa (justifica) porque a graça de Deus pode ser derramada sobre aquele que dirige sua súplica ao Senhor. Obviamente o pecador justificado não volta para casa para continuar sua vida de pecado e na próxima oração receber novamente o perdão. Ele vai mudando de vida pela força que Deus lhe dá, vai deixando de lado o pecado e procurando viver de acordo com sua fé. Este homem pode deixar de ser ladrão, chegar a jejuar duas vezes por semana, pagar o dízimo de tudo... mas ele nunca pensará que tudo isso ele faz porque é justo, mas porque Deus o justificou e lhe deu força para viver de acordo com essa justiça. Sua oração nunca será semelhante a do fariseu (tendo como sujeito um grande EU), mas poderia ser da seguinte forma: “Senhor, te dou graças porque tu me libertastes do pecado e me perdoastes. Obrigado por me dar força de jejuar e devolver o dízimo, concede-me, ainda, a graça de ajudar meus irmãos a encontrar o caminho da verdadeira justiça que só tu podes conceder”.
O grande problema da vida espiritual é quando a pessoa reza a si mesma, como o fariseu. Sua prece não chega a Deus e Ele não pode fazer nada porque a pessoa basta e ama só a si mesma.  Quebrar esse “círculo vicioso” (o círculo da oração dirigida a si mesmo) é muito difícil porque geralmente são pessoas que estão no caminho de fé há muito tempo. Por isso, Jesus foi tão incisivo nas suas críticas contra tais fieis que são personificadas no evangelho como sendo os fariseus, mas nós sabemos que eles sempre existiram nas sociedades religiosas, inclusive na nossa Igreja. O Senhor mostrou o perigo desta maneira de viver a fé e tentou quebrar seu “círculo vicioso” com palavras duras. Quando estas pessoas assumem posições de coordenação ou de destaque fazem um grande mal aos que estão sob sua responsabilidade.
Peçamos a Deus a graça de aprendermos a orar como Jesus como o publicano da parábola.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba

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