sábado, 14 de setembro de 2013

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


“Tudo o que é meu é teu” (Lc 15, 31).

Esta passagem talvez seja a página mais lida, comentada e amada de todo o evangelho de Lucas. Ela contém a parábola do filho pródigo, ou melhor, a história do pai misericordioso. Geralmente ela é explicada a partir da ótica do filho mais novo que sai da casa do pai para gastar sua parte da herança com uma vida desenfreada e quando se encontra sem nada resolve retornar para pedir emprego. Ele, porém, é acolhido pelo pai como filho muito amado.
Hoje eu gostaria de comentar a passagem a partir da história do filho mais velho, aquele que não saiu de casa, não pediu a sua parte da herança, não esbanjou o dinheiro com farras ou prostitutas, sempre foi obediente ao pai e fica com raiva quando percebe que seu irmão retornou e estão fazendo uma festa para ele.
Na parábola que Jesus conta, o mais velho representa os fariseus e mestres da lei que estavam reclamando porque ele acolhia os pecadores públicos que lhe procuravam para ouvir sua palavra e fazia refeição com eles (cf. Lc 15,1). O filho mais novo representa justamente estes pecadores, os publicanos e as prostitutas que estão em busca de uma vida nova. Os mestres da lei e os fariseus não conseguem compreender como aqueles que esbanjaram sua vida de forma desenfreada podem agora ser acolhidos por Jesus. No fundo a mentalidade destes homens não é diferente daquela presente em muitos católicos tradicionais que estão na Igreja há tanto tempo. Retornemos então ao evangelho para descobrir que mentalidade cancerígena é essa.
[Pai], eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festeja com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado (Lc 15, 28-30).
O filho mais velho nunca tinha saído da casa do pai, nunca tinha desobedecido a uma ordem sua e trabalhava para ele todos esses anos, mas não vivia como filho e sim como empregado: ele nunca teve coragem de pedir um cabrito sequer para fazer festa com seus amigos! Ele fazia tudo por pura obrigação e dever, e nunca tinha experimentado a alegria de estar na casa do pai. Lá no fundo ele deve ter ficado com inveja do mais novo que teve coragem de “aproveitar a vida”, enquanto ele se matava de trabalhar, por isso ficou com tanta raiva quando o pai fez festa para o mais novo que tinha sido recuperado com vida.
Podemos até imaginar como essas palavras devem ter cortado o coração do pai, seu primogênito não vivia como filho mas como servo, por isso ele disse: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu” (v. 31). Em outras palavras ele disse, “você poderia ter pegue um cabrito ou um novilho para festejar com seus amigos, porque tudo isso é seu também. Agora, deixa de viver como empregado e passa a viver como filho meu, entra na minha casa e faz festa para seu irmão que estava perdido e foi encontrado”. Não sabemos se ele aceitou o convite ou não. O que percebemos é que ele precisava também de uma profunda conversão: deixar de vive na casa do pai por obrigação, e como empregado, para viver ali como filho que desfruta dos bens do pai porque são dele também.
Nós católicos que estamos há muito tempo na Igreja e já fizemos um certo caminho de mudança de vida às vezes caímos na mentalidade deste filho mais velho. Fazemos as coisas por obrigação, dever, e não experimentamos mais a alegria de viver na casa do Pai. Parece que no fundo sentimos inveja daqueles que vivem de forma inconsequente fazendo tudo o que têm vontade e quando estes pecadores públicos se aproximam da Igreja temos raiva e expressamos esse sentimento com nossos julgamentos cruéis, nossas caras feias ou até mesmo certas palavras grosseiras. Precisamos descobrir que Deus não prende ninguém na Sua casa. E ninguém deve permanecer aí por pura obrigação, como se estivesse preso pelo cumprimento da lei. Nós católicos de longa data precisamos aceitar o convite do Pai de entramos em uma nova mentalidade, a da festa. É bom estarmos na Sua casa, é bom não termos experimentado as consequências de uma vida desenfreada, a lama das porcilgas. Mas é melhor ainda fazer festa com quem sai desta situação de morte e retorna para a casa do Pai, para a Igreja: “Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado” (Lc 15, 32).


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba

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