sábado, 7 de setembro de 2013

XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

O amor do discípulo.

O evangelho de hoje é um daqueles que nós, padres, temos a tendência de colocar muito açúcar nas nossas explicações até fazê-lo perder toda força e escândalo.

Jesus continua sua viagem para Jerusalém, a última do seu ministério público, e, neste momento, grandes multidões o acompanhavam. Ele se vira para estas pessoas e diz: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). Sabemos que entre os grupos de pessoas que aparecem próximos de Jesus estão a multidão, os discípulos e os apóstolos. As multidões gostam de ouvir a voz do Mestre (Lc 5,1), vão atrás dele para serem curadas (Lc 5,19; 6,19), reconhecem nele um homem de Deus (Lc 19,37). Mas diante de suas palavras exigentes e ações incomuns elas reagem com desprezo (Lc 8,37) ou violência (Lc 22,47; 23,18). A inconstância ou ambivalência das multidões se dá pelo fato de formarem uma massa que se deixa levar por aquele que grita mais alto ou consegue manipular mais. Elas não pensam, e só procuram ou o que lhes agrada ou aquilo que alguém apresenta como sendo o melhor. O que Jesus propõe aos que estão nesse grupo é que se tornem discípulos: “Quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). Nesta perspectiva, o discípulo é aquele que decide seguir o Mestre pessoalmente, assumindo toda responsabilidade das suas escolhas neste caminho. Ele deixa, assim, de pertencer à massa e se torna membro da comunidade de Jesus Cristo, sujeito da própria existência. Vive junto com os irmãos, mas não deixa de ser responsável pelas decisões pessoais e comunitárias.

Para fazer essa passagem, de multidão a discípulo, é preciso se desapegar daquilo que é mais precioso para a pessoa. A tradução utilizada no lecionário já é uma interpretação. No texto grego se diz “odiar”, isso porque o hebraico não possui comparativos de superioridade ou inferioridade (“amar mais”, “amar menos”), mas apenas “amar” ou “odiar”.

Se alguém aceita o convite para ser discípulo de Jesus, precisa amá-lo mais do que ama pai, mãe, irmãs, irmãos, esposa, filhos, trabalho... e a própria vida. Como isso seria possível? Em primeiro lugar através de um “enamoramento” da pessoa e da proposta do Mestre. Assim como um homem apaixonado coloca em segundo plano tudo que antes achava essencial na sua vida – pais, trabalho, amigos etc – em vista da amada, assim também acontece com quem se encanta com Jesus e seu Reino. No caso do discipulado cristão, porém, acontece algo mais profundo. Cristo não é apenas uma pessoa e sua proposta apenas um ideal. Ele é Deus e nos oferece o caminho da salvação. O “apaixonamento” pelo Senhor precisa ser seguido de um ato de fé, de uma total entrega de si e de um compromisso existencial com Ele.

Renunciar a tudo por Jesus significa não colocar nada no lugar que pertence a Ele, o de Senhor. A incompatibilidade é entre dois patrões (“Não podeis servir a dois patrões”): Jesus e o dinheiro, Jesus e a carreira, Jesus e eu mesmo. Ou seja, entre duas realidades que brigam pelo primado e pela obediência do ser humano. Não se pode ter dois absolutos na vida de uma pessoa[1].

Para eu ser verdadeiro discípulo de Jesus, preciso fazer escolhas que O coloquem acima de todas as pessoas que eu amo e acima de mim mesmo. Podemos começar por coisas bem simples, como ir à Celebração Eucarística/da Palavra no domingo para só depois pensar no descanso ou lazer; retirar 20 minutos do meu dia para ouvir Jesus através da leitura de sua Palavra, mesmo quando tenho uma casa inteira para cuidar; participar ativamente de uma comunidade através dos grupos de catequese e de seus trabalhos, mesmo quando tenho um emprego muito exigente.

Todas essas escolhas, porém, não estão em concorrência com o amor que você tem pela s­­ua família, trabalho e por si mesmo. Elas fazem parte do caminho do discípulo e foram dadas para que você consiga seguir o Senhor em todas as realidade da sua vida, transformando-as em “Reino de Deus” e não em “Reino de Si mesmo”. Isso acontece quando se coloca Jesus em primeiro lugar e cada decisão é tomada a partir da fé e do amor que temos por ele.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba



[1] Cf. Raniero Cantalamessa, La parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno C. 9a Ed., Roma: Città Nuova Editrice, 2001, p. 340. 

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