sábado, 10 de agosto de 2013

XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

“Não tenhais medo, pequenino rebanho” (Lc 12,32).
Estas palavras de Jesus tocam as fibras mais profundas do nosso coração porque estão cheias de ternura e amor. Ele está falando aos seus discípulos, mas parece que Lucas queria que elas ressoassem no âmago da comunidade primitiva que encontrava tantas dificuldades e perseguições.
“Não tenhais medo (...), diz Jesus aos seus, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino” (Lc 12,32). O Reino messiânico, prometido pelo Antigo Testamento, anunciado pelo Mestre na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,18-21), se faz presente na pessoas e nas ações dele. Entra no Reino quem se submete a Deus com toda a sua vida e por isso instaura uma relação nova com os irmãos na fé e com todos os homens e mulheres. Esta relação se chama justiça e caridade e se manifesta concretamente na esmola[1] (cf. Lc 6,30.34.35.38). Lá onde existe uma pessoa necessitada de um lado, e uma acumulação de bens do outro, a ajuda desinteressada e sem limites é o modo concreto de praticar o amor para com o próximo[2]. É neste sentido que se pode entender o convite de Jesus aos discípulos: “vendei vossos bens e dai esmola” (Lc 12,33).
No domingo passado,o evangelho mostrava que uma vida sóbria, sem acúmulo de riqueza, era a forma que o discípulo tinha para testemunhar que acreditava no Pai do céu que providencia o que comer e o que vestir. No texto de hoje percebemos que o seguidor de Jesus é aquele que entrou no Reino de justiça, que não aceita ver seu irmão na indigência enquanto tem mais que o suficiente para viver. Daí nasce a necessidade da esmola compreendida não como um trocado que humilha e traz dependência para quem recebe (e acalma a consciência da pessoa que oferece) mas como doação de si, do que se tem para viver, de suas posses reais, para que o outro possa viver. O ideal do Reino é portanto a caridade, e não a privação dos bens, o amor que se esforça de todas as formas para que ninguém seja constrangido pela necessidade material[3].
Este reino que inicia na relação da pessoa com Deus e com o próximo, e precisa de sinais sobre esta terra (comunidades cristãs justas, sociedades mais igualitárias, cristãos autênticos que assumem a missão de políticos), é fundamentalmente futuro, é Reino do céu. Por isso, a esmola e, consequentemente, a vida pobre é motivada escatologicamente: “Fazei para vós bolsas que não estraguem, um tesouro no céu que não se acabe, pois onde estiver o vosso tesouro ai estará também o vosso coração” (Lc 12, 33-34). Os homens e mulheres normalmente não pensam no que acontecerá apos a morte, fazem muitos planos e economias para a idade da maturidade, para o futuro, mas para o futuro sobre esta terra. Precisamos alargar um pouco mais nossos horizontes e pensar na eternidade, na vida plena em comunhão com Deus e com os irmãos. Estou me preparando para este momento? Usando as palavras de Jesus, estou fazendo uma “poupança no céu” através da ajuda consistente (esmola) que ofereço aos pobres? Ou coloco nesta poupança apenas os trocados que me sobram e não fazem falta?
Sabemos que o dízimo e as ofertas da missa são uma forma de esmola e que a ajuda aos pobres é uma das funções dessas doações que fazemos à Igreja. Diante dessa realidade precisamos ainda fazer dois questionamentos: o que ofereço é uma verdadeira esmola ou apenas trocados? A nossa paróquia está cumprindo o seu papel de ajuda aos pobres?


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba




[1]A palavra esmola vem do grego eleemosynee pode significar: a misericórdia de Deus (Sl 24,5; Is 59,16); a resposta leal do homem a Deus, ou seja, a justiça (Dt 5,25); e a misericórdia do homem para com seu semelhante (Gn 47,29). O último sentido é o que aparece no Novo Testamento e só acontece verdadeiramente quando se traduz em atos, de forma especial no apoio material  aos que estão em necessidade. A esmola, gesto de bondade do ser humano para com seu irmão, é em primeiro lugar, uma imitação dos gestos de Deus que, por primeiro, deu provas de bondade para com seus filhos (cf., C. Wléner, “Esmola”. In X. Léon-Dufour, Vocabulário de teologia bíblica. 10a ed., Vozes: Petrópolis 2009, p. 286)
[2]Cf. R. Fabirs – B. Maggioni, Osevangelhos II. 4a ed., Loyola: São Paulo 2006, p. 114s.
[3]Cf. R. Fabirs – B. Maggioni, Osevangelhos II. 4a ed., Loyola: São Paulo 2006, p. 115.

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