sábado, 17 de agosto de 2013

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA ANO C

Ele elevou os humildes (cf. Lc 1, 52).

A festa que celebramos hoje foi definida como dogma pelo Papa Pio XII em 1o de novembro de 1950:

Pela autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo, e pela nossa própria autoridade, pronunciamos, declaramos e definimos como dogma que a Virgem Maria, terminado o curso da vida terrena, foi elevada em corpo e alma à glória celeste (cf. Munificentissimus Deus, n. 44).

Os cristãos, porém, desde o século III ou IV, já demonstravam acreditar que Maria, a mãe de Jesus, tinha sido levada ao céu[1].

Por que Deus exaltaria desta forma uma criatura sua? Por que Ele elevaria à glória do céu uma mulher da mesma forma que já tinha feito com seu próprio Filho? A resposta pode ser encontrada no texto do evangelho de hoje. “Bem aventurada aquela que acreditou”, disse Isabel à Maria, que por sua vez respondeu proclamando: “A minha alma engrandece o Senhor (...) porque olhou para humildade de sua serva (...) Ele mostrou a força do seu braço: (...) Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes” (Lc 1,48.51-52).

Deus olhou para situação humilde que vivia Maria e, na pessoa dela, todo o seu povo, e veio visitá-la, propondo um plano de salvação que dependia do seu sim. Essa situação humilde é a condição de pobreza e indigência que vivia o povo, dominado pelo Império Romano, explorado com taxas e tributos excessivos recolhidos pelos irmãos da própria raça, vendidos como escravos para pagar suas dívidas.

No Antigo Testamento, o povo de Deus já tinha experimentado situações de grandes humilhações: derrotas em batalhas e guerras, escravidão no Egito, exílio na Babilônia, doenças. Tais situações fizeram o povo tomar consciência da sua fraqueza congênita e da miséria do pecador que se separa de Deus. Com este reconhecimento, o ser humano pode se inclinar e se voltar para Deus com um coração contrito (cf. Sl 50,19), com aquela humildade feita de dependência total e de docilidade confiante que inspira a oração de alguns salmos (cf. Sl 24; 105)[2]. Em Maria esta inclinação se manifestou de uma forma mais profunda, através da fé. Ela confia inteiramente Naquele que a criou e lhe convida a participar de Seu plano de salvação. Confia Nele e em suas palavras.

A humildade de Nossa Senhora é ainda mais profunda. Ela, antecipadamente, age como o seu Filho, que se declarou “manso[3] e humilde de coração” e disse para aprender com Ele (Mt 11,29). Jesus foi humilde não para si, mas por causa dos outros. Ele lavou os pés do seus discípulos (cf. Jo 13,14ss) e morreu na cruz (cf. Fl 2,6; Mc 10 ,45) para salvar os homens e as mulheres. Portanto, a humildade de Cristo é amor – não sentimento, mas ação concreta. “Em Jesus se revela não só o poder divino sem o qual não existiríamos, mas a caridade divina sem a qual estaríamos perdidos (cf. Lc 19,10)”[4].

Se retornamos ao nosso evangelho percebemos que a humilde serva do Senhor foi apressadamente ao encontro de Isabel porque sabia que sua prima estava precisando dela. Quando sua prima a proclama “bem-aventurada” porque acreditou, ela está lembrando o sim que Maria deu ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Mais uma vez a humildade de Nossa Senhora não permite pensar em primeiro lugar em si, seus sonhos de esposa de José, mas pensa no povo que precisava da visita de seu Deus. A humildade de Maria foi também caridade.

Na festa de hoje somos convidados não só a cumprir o evangelho, proclamando Nossa Senhora bem-aventurada, feliz, santa (cf. Lc 1, 48), mas, principalmente, fugir do nosso orgulho e imitar a humildade dela, para que também nós uma dia sejamos exaltados por Deus.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba



[1] Cf. O livro do repouso de Maria;  Narrativas da dormição dos Seis Livros (cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Assunção_de_Maria. Acesso 15 de julho de 2013.
[2] Cf. M.-F. Lacan, “Humildade”. In:  X. Léon-Dufour (Dir.), Vocabulário de teologia bíblica, p. 416.
[3]Em grego praüs indica o humilde cuja submissão a Deus o torna paciente e manso (cf. Mt 5,4 e 11,29); (Cf. M.-F. Lacan, “Humildade”. In:  X. Léon-Dufour (Dir.), Vocabulário de teologia bíblica, p. 415).
[4] Cf. M.-F. Lacan, “Humildade”. In:  X. Léon-Dufour (Dir.), Vocabulário de teologia bíblica, p. 416-17.

Nenhum comentário:

Postar um comentário