quinta-feira, 25 de julho de 2013

XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

“Senhor, ensina-nos a rezar[1]” (Lc 11,1)
O evangelho de Lucas nos mostra Jesus orando em muitas ocasiões: após o batismo de João (3,21), no deserto (4,1-13), durante seu ministério (5,16), antes de escolher os doze (6,12), no alto de uma montanha (9,28-29), no início da sua paixão (22,41) e em outras ocasiões (9,18; 11,1). Podemos dizer que Lucas apresenta Jesus como um contemplativo, alguém que se dedica à oração porque tem sede de Deus. Podemos perceber também que a oração é o motor e a direção de sua vida e ministério.
Após um momento de oração do Mestre, os discípulos, impressionados com a forma dele fazer isso, pedem: “Senhor, ensina-nos a rezar”. Está implícito o complemento, “como tu”. A oração de Jesus era diferente da de João Batista e da dos fariseus, não tanto pelas palavras mas pela forma, pela simplicidade e intimidade com que se dirigia a Deus: Abba, Paizinho (cf. Mc 14,36).
“Quando rezardes, dizei: ‘Pai...’” (Lc 11,2). Jesus não está preocupado em ensinar uma oração litúrgica e solene, mas pessoal e espontânea. Os discípulos, como bons judeus, sabiam as orações litúrgicas, conheciam e recitavam os salmos, mas percebiam que não rezavam como Jesus porque ainda não conheciam a Deus como Abba, Paizinho. Só Jesus poderia revelar esta face de Deus, porque Ele era seu Pai. A oração é uma conversar e um encontro com o Pai de Jesus que é também nosso.
Muitos católicos da nossa paróquia conhecem diversas orações: Ave-Maria, Salve-Rainha, rosário, ofício de Nossa Senhora etc. Alguns, com mais idade, são capazes de recitar uma longa ladainha de memória. Nas missas, graças a Deus, sabemos todas as repostas. Mas nossa recitação é verdadeira oração? Santa Teresa d’Ávila, mestra em assuntos espirituais, nos ensina que quando rezamos precisamos em primeiro lugar considerar com quem vamos falar, para depois saber o que e como falamos[2]. O católico não pode cair na tentação que Jesus criticou, pensar que a repetição das palavras valem por si mesma (cf. Mt 6,7), quase como se fossem uma fórmula mágica que uma vez pronunciadas vão alcançar aquilo que se quer (a ditas orações de poder). A oração é uma conversa com o Paizinho do céu, e mesmo quando é recitada com uma fórmula preestabelecida a pessoa precisa considerar isso e saber o que está falando para Ele.
Quando alguém reza desta forma, conversando com Deus, sentirá necessidade também de uma oração mais espontânea. Onde as palavras saem diretamente do seu coração para o Pai. E pode acontecer, inclusive, que faltem palavras mas a pessoa tem consciência de estar na presença de Deus, sem dizer nada. Isso acontece somente entre confidentes que depois de falar tudo o que tinham para dizer,  simplesmente silenciam um na presença do outro. Por isso, a oração pode ser definida também como encontro[3].
A nossa Igreja e o mundo de hoje precisam de pessoas que conheçam a Deus não apenas de ouvir falar mas porque O experimentam pessoalmente na oração. Estes são os verdadeiros missionários que poderão mostrar aos homens e mulheres do século XXI a face do Pai amoroso.

Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba



[1]Utilizamos, como é nosso costume, a tradução do lecionário que usa o verbo “rezar” no lugar que algumas Bíblias utilizam “orar”. Para o católico, rezar (do latim: recitare) é sinônimo de orar (do latim: orare).
[2]Teresa de Jesus, Castelo interior ou moradas.
[3]Sobre isso se pode ler um bom livro de AnselmGrüm, A oração como encontro, Vozes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário