quarta-feira, 17 de julho de 2013

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

“Maria escolheu a melhor parte” (Lc 10,42)

Diante deste evangelho muitas vezes ficamos desconcertados e queremos comentá-lo de uma forma que diminua nosso mal estar. Jesus estaria fazendo uma apologia à passividade, à contemplação, em detrimento do trabalho?

Jesus estava, juntamente com os apóstolos, viajando para Jerusalém, a última viajem do seu ministério público. Na sua passagem por Samaria, ele não tinha recebido acolhimento porque souberam para onde viajava (cf. Lc 9,51-56). Os samaritanos tinham e têm uma grande rivalidade com os judeus, e vice-versa. Em Betânia, porém, ele encontra acolhida na casa de duas irmãs, Marta e Maria. A primeira logo se apressa para preparar mais que o necessário para servir Jesus. A segunda se senta aos pés do Senhor para escutar as suas palavras.

É interessante perceber que o vocábulo utilizado para descrever o que Marta faz é serviço (diaconia), entendido como serviço prestado à mesa. O problema desta mulher não é querer acolher Jesus da melhor forma possível, mas o modo como ela fez isso. O texto diz que ela ficou preocupada com muito serviço – mais adiante Jesus afirma que Marta estava ansiosa e perturbada com muitas coisas. Provavelmente ela queria preparar bem mais que o necessário para Jesus e isso a levou a uma agitação estéril, esquecendo o mais importante: escutar a palavra do Mestre.

O que Lucas deseja mostrar é a primazia da escuta da palavra sobre o serviço desorientado[1]. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada. Ela é a discípula verdadeira que escuta a palavra para depois colocar em prática (cf. Lc 8,21), ou seja, para depois servir. Marta realiza um serviço desvinculado da escuta. Ela já começa trabalhando, e isso a agita e lhe leva a uma preocupação desnecessária com estas coisas (cf. Lc 12, 29-31), ao ponto de reclamar de Jesus: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” (Lc 10,40).

Podemos dizer que Maria é o modelo do discípulo de Jesus que primeiro escuta a sua palavra para depois colocá-la em prática. Enquanto Marta é um modelo do que não devemos fazer: servir o Senhor da melhor forma possível sem escutar primeiro a sua palavra.

Na nossa Igreja existem muitas pastorais. Tenho vontade de parar para contar tudo que uma paróquia precisaria ter e fazer para seguir todas as sugestões da CNBB: pastoral da família, dos noivos, da criança, do menor, da juventude, do batismo, da pessoa idosa, do dízimo, da liturgia, da comunicação, vocacional, da juventude, da sobriedade, equipe das campanhas (fraternidade e evangelização), comissão missionária paroquial... Sem falar nos serviços e movimentos. Às vezes me pergunto se não estamos muito parecidos com Marta: fazemos muito, queremos fazer mais e não temos tempo de nos sentar aos pés do Mestre para escutar sua palavra e saber se ele quer que façamos tudo isso, ou prefere que nos dediquemos a outras coisas.

Na nossa paróquia, priorizamos os grupos de catequese como uma forma de sermos mais parecidos com Maria. Com o passar do tempo, surgem de dentro destes grupos pessoas dispostas a servir sua comunidade naquilo que é necessário: catequistas de crianças, pessoas que celebram a Palavra no dia de domingo, Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão etc. Acredito que dessa forma estamos fazendo uma profunda conversão pastoral aos moldes daquilo que os bispos têm pedido desde Aparecida[2]: é preciso ser discípulo de Jesus para depois se tornar missionário.

E você, que acompanha esta homilia, já entrou na dinâmica da escuta da palavra do Senhor para ser parecido(a) com Maria? Está fazendo parte de um grupo de catequese?

Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba




[1]Em At 6,2.4, Lucas vai mostrar que o serviço à Palavra (pregação) e a oração têm a primazia no ministério apostólico em relação ao serviço às mesas das viúvas. É neste contexto que surge a figura dos sete homens de origem grega, que receberão a imposição das mãos dos apóstolos, para se dedicar a esta missão.
[2]A impressão que tenho é que a maioria das paróquias continuam fazendo tudo igual a antes e só acrescentaram algumas citações do Documento de Aparecida, mas não se deixaram questionar por ele para realizar uma conversão pastoral.

Um comentário:

  1. Belíssima reflexão podemos fazer depois deste comentário. Amem.

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