sexta-feira, 12 de julho de 2013

XV DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


“Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” (Lc 10,25)
A pergunta foi feita para colocar Jesus à prova, mas ele reverteu o questionamento para o próprio doutor da lei e aproveitou para dar um ensinamento profundo mas muito simples.
Este questionamento é comum a todo o ser humano que já acredita que existe uma vida além dessa. O que se deve fazer para desfrutar plenamente da vida que existe para além da morte? Como viver para sempre?
As respostas dadas foram as mais variadas possíveis, desde ensinamentos complexos que envolviam números, mistérios, segredos, sacrifícios... até formas de vidas estranhas que convidavam as pessoas que queriam viver para sempre a se afastar de tudo e de todos para meditar até receberem uma iluminação e se tornarem assim uma célula divina; ou subirem em cima de uma coluna e ali passar o resto da vida em sacrifício e oração, sem contato com ninguém.
A resposta encontrada no Antigo Testamento e confirmada por Jesus é muito mais simples: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo! (…) Faze isto e viverás” (Lc 10, 27-28), acrescentou Jesus.
Amar a Deus e ao próximo é não somente uma forma de procurar a vida que existe depois da morte, mas é também a maneira de desfrutar o máximo esta vida que temos (cf. Lv 18,6). Quem odeia ou despreza seu irmão está buscando a morte não só para o outro, mas também para si mesmo.
Este ensinamento é a coisa mais simples que existe, e nossa imaginação fica um pouco decepcionada com tal simplicidade da lei e do ensinamento de Jesus, gostaríamos que ele tivesse revelado um caminho complicado ou muito difícil; seria mais excitante. É o que fala a primeira leitura:
Na verdade, este mandamento que hoje te dou não é difícil demais, nem está fora do teu alcance. Não está no céu, para que possas dizer: ‘Quem subirá ao céu por nós para apanhá-lo? Quem no-lo ensinará para que o possamos cumprir?’
Nem está do outro lado do mar, para que possas alegar: ‘Quem atravessará o mar por nós para apanhá-lo? Quem no-lo ensinará para que o possamos cumprir?’
Ao contrário, esta palavra está ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas cumprir (Gn 30,11-14)
O mestre da lei parece que se interessou pela resposta de Jesus e quis aprofundar o assunto: “E quem é o meu próximo?” (Lc 10, 29). Então Jesus conta aquela estória que está apenas no evangelho de Lucas e que chamamos de parábola do bom samaritano. É muito interessante perceber a sutileza da narrativa de Lucas: o homem que foi apanhado pelos ladrões parece que tinha ido a Jerusalém para prestar culto a Deus e voltava para casa (“descia de Jerusalém a Jericó”); o sacerdote e o levita, com certeza, voltavam do serviço no templo porque desciam pela mesma estrada (v. 31.32); eles viram o homem estendido no chão e seguiram adiante pelo outro lado da estrada, tiveram medo, desprezo, não exercitaram o amor; o samaritano, povo que tinha como base o Antigo Testamento mas com práticas estranhas aos judeus e, por isso, considerados heréticos e desprezados, se aproximou e cuidou daquele homem que estava quase morto.
O mestre da lei tinha perguntado “quem é o meu próximo”, Jesus devolve a pergunta a ele de uma forma invertida: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” (v.36). Na época de Jesus parece que existia uma discussão sobre quem era o próximo, muitos doutores da lei respondiam que era apenas o irmão da fé, o judeu. Jesus vai muito além ao mostrar que a pergunta deve ser invertida: Qual dos três se fez próximo do homem que estava estendido no chão quase morrendo? O amor não faz acepção, ele precisa ser universal para ser caminho para vida. Parece que o doutor da lei entendeu a mensagem de Jesus, tanto é que respondeu à pergunta corretamente: “Aquele que usou de misericórdia” (v.37).O Senhor, então, lhe diz solenemente: “Vai e faze a mesma coisa” (v. 37).
O caminho da vida é se fazer próximo de todos aqueles que precisam de nós, independentemente do que sejam (católicos, evangélicos, judeus, mulçumanos, ateus, espíritas, prostitutas, homossexuais, criminosos...), mas isso não é nada fácil porque somos cheios de preconceitos.


Pe. Emilio Cesar

Pároco de Guaiuba

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