sexta-feira, 28 de junho de 2013

SOLENIDADE DE S. PEDRO E S. PAULO ANO C

“Tu és Pedro” (Mt 16, 18).


celebramos a festa de S. Pedro e S. Paulo, dois missionários de Jesus. Pedro o discípulo que Jesus escolheu para estar a frente do grupo dos doze apóstolos, aquele que conduziu a Igreja nas primeiras décadas do cristianismo sendo pedra de unidade,e morreu mártire na perseguição que o imperador Nero desencadeou contra os líderes cristãos no ano de 64 d.C.. Paulo, aquele que foi a Damasco perseguir alguns cristãos e no caminho foi “alcançado” pelo Senhor, recebeu a “revelação” de que Jesus era o Filho de Deus e que tinha sido escolhido para ser seu missionário entre os gentios (não judeus). Após percorrer boa parte do mundo conhecido anunciando esta Boa Nova, foi preso e martirizado também por Nero no ano de 64.
Nós acreditamos que estes dois homens foram escolhidos por Deus e seu Filho para colocar o fundamento da fé cristã. Eles anunciaram a Boa Nova do Reino e a ressurreição de Cristo, testemunharam com a vida esta fé, e preferiram morrer a renegá-la. O fato destes dois grandes missionários terem morrido em Roma fez que o ministério deles fosse ligado àquela Igreja, assim o segundo bispo da capital do Império, Lino, é herdeiro não só do ministério petrino(ser ponto de unidade para toda Igreja) mas também do paulino (ser missionário incansável do evangelho). Por isso, nesta missa, rezamos pelo atual bispo de Roma, o Papa, e ofereceremos toda a coleta para as suas obras missionarias e de caridade (óbulo de S. Pedro)
Na homilia de hoje queremos nos deter no evangelho: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,16). Jesus solicita que seus discípulos se manifestem em relação à sua identidade: Quem sou eu para vocês? Pedro responde em nome de todos: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo[1]” (v.15), em outras palavras: Tu és o Ungido que nós, judeus, esperávamos para implantar o Reino de Deus, tu és aquele que tem uma relação única com Deus, o Seu filho unigênito.
Pela bem-aventurança declarada por Jesus descobrimos que o que Pedro falou foi uma verdadeira profissão de fé, fruto de uma revelação divina: “Bem-aventurado és tu, Simão... porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim meu Pai que está nos céus”[2] (v. 17). “Carne e sangue” é uma expressão para indicar o ser humano na sua natureza material e limitada, em oposição ao mundo espiritual e ilimitado. Jesus afirma que aquilo que o Apóstolo falou não provém de sua humanidade fraca e limitada, mas é uma re-velação (tirar o véu), ou seja, um desvelamento realizado por Deus. Ele já tinha afirmado: “Eu te louvo, Pai, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25). Nós cristãos acreditamos que Deus manifestou a plenitude de sua revelação (quem Ele é e o seu desígnio a nosso respeito) em Jesus Cristo e durante o período apostólico, graças ao Espírito Santo. Aqui não se trata de revelações privadas, místicas, ou espirituais (“Deus me revelou que vou ser padre”), mas de descortinar uma parte do mistério de Deus e de seu desígnio. A Igreja católica ensina que este tipo de revelação já está concluída com a morte do último Apóstolo (cf. Cat. 66), mas sua compreensão cresce com a reflexão e o estudo dos fieis, com a vida da Igreja e a pregação dos bispos. Com isso, podemos perceber a profundidade das palavras de Pedro e o alcance da bem-aventurança declarada por Jesus.
Partindo desta realidade Jesus declara: “Tu és Pedro (Céfas) e sobre esta pedra (céfas) edificarei a minha Igreja”. Simão, graças a profissão da sua fé que por sua vez foi revelada por Deus, se torna pedra de unidade para a Igreja. Aquilo que ele declara (ligar e desligar) tem autoridade não apenas sobre a terra mas também no céu. É uma autoridade assustadora para alguém feito de “carne e sangue” e precisa ser compreendida corretamente para não causar prejuízo.
Tudo isso precisa ser usado para o serviço, para ajudar os irmão na fé a encontrarem o caminho da salvação: “... O maior dentre vós deve ser aquele que vos serve” (Mt 23,11). Pedro continua sendo apenas um irmão que recebeu a missão de ser pedra, fundamento da unidade de fé entre os cristãos: “... um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos” (Mt 23,8). Ele não recebeu a graça da impecabilidade ou da infalibilidade[3] em todas as suas falas, tanto é que logo após a cena do evangelho que estamos lendo Jesus o repreende por não dizer as coisas de Deus mas as dos homens (Mt 16,23); ele também nega o Mestre no momento da paixão (Mt 26,69-75). Nós católicos, não podemos transformar o ensinamento deste evangelho em culto da personalidade do Papa, isso está totalmente fora da Boa nova de Jesus. O que é importante em Pedro e seus sucessores não é a sua pessoa, seu jeito de ser, o seu desejo, mas a fé que ele proclama como pastor supremo da Igreja.
Pedro continua feito de carne e sangue, mas ele recebeu a graça de se tornar pedra de unidade para todos os cristãos. Aquele que quiser ser católico verdadeiro precisa estar unido à profissão de fé proclamada por este Apóstolo e todos os seus sucessores, assim teremos certeza de estarmos na Igreja que Cristo fundou: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). Caso contrário, poderemos ter bons propósitos, práticas religiosas, obras de caridade, mas estaríamos construindo uma igreja que não é a de Jesus mas a nossa ou de nosso grupo ideológico.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba



[1]O título Filho de Deus vivo corresponde à fé da Igreja após vivenciar a ressurreição do Senhor e aprofundá-la na comunidade.
[2]O texto utilizado foi retirado da Bíblia de Jerusalém, bem como o comentário que segue.
[3]A doutrina da Igrejaensinaque o Papa é infalívelquandoproclamacom um atodefinitivoumadoutrinareferente a fé e a moral. Issoacontece de forma muitoextraordináriaquando o Papa declara um dogma e em outros poucosmomentos (cf. Cat. 891).

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