Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Caros irmãos e irmãs,
Continuando o caminho da Quaresma, a Igreja nos apresenta
neste domingo a passagem da mulher adúltera apanhada em flagrante. Esta
passagem nos mostra dois grupos de pessoas necessitadas de conversão: o pecador
público (mulher adúltera) e o religioso ágil em apontar os erros dos outros e
lento para reconhecer os próprios (escribas e fariseus).
A lei do Antigo Testamento dizia: “Se um homem cometer um
adultério com a mulher do próximo, o adúltero e a adúltera serão punidos com a
morte” (Dt 20,10). Era isso que os escribas e os fariseus queriam fazer,
aplicar a lei. Mas aproveitaram a ocasião para tentar apanhar Jesus em alguma
falta: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés, na
Lei, mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” (v. 4).
Jesus se agachou e começou a escrever na terra – talvez uma
forma de dizer: Vejam de que material vocês todos, não só esta mulher, são
feitos: terra, pó. O gesto não foi compreendido pelos escribas e fariseus, que
continuavam insistindo com Jesus. Finalmente o Mestre fala: “Quem dentre vós
não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (v. 7). Aqueles que
estavam tão decididos a fazer justiça, a extirpar o mal do seu meio (cf.
Dt22,22.24), começaram a olhar para si e parece que perceberam que eles também
eram pecadores. Largaram as pedras e saíram um a um, começando pelos mais
velhos.
Não é difícil que aqueles que têm uma prática religiosa
assídua, uma moral reta e um comprometimento com a Igreja, caiam neste mesmo
erro se não buscam aprofundar sua fé em Jesus a cada dia. São especialistas em
apontar o cisco que está no olho do outro, mas não conseguem ver a trave do
próprio. Estes precisam de conversão. Nesta Quaresma, eles precisam descobrir
que a perfeição de Deus (Mt 5, 48) é a misericórdia: “Sede misericordiosos como
vosso Pai é misericordioso. ‘Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis
e não sereis condenados; perdoais e sereis perdoados’” (Lc 6,36-37).
Para que esta conversão aconteça é fundamental que o homem e
a mulher religiosos se tornem homem e mulher de fé. Ser religioso significa ter
práticas que são somente frutos da educação dos pais, da cultura, do próprio
hábito ou de tendências naturais, mas que não são consequências de um encontro
com Jesus ressuscitado que me leva a uma adesão pessoal e a entrar num contínuo
processo de conversão. O homem e a mulher de fé são aqueles que fizeram a
experiência que Paulo fez no caminho de Damasco (At 9,1ss) e por isso podem
afirmar com ele: “Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem
suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor” (Fl
3,8). O conhecimento do Senhor é uma experiência de fé que abraça toda a vida e
coloca a pessoa num caminho de conversão diária. Toda a sua vida e práticas
religiosas precisam ser revisitadas, revistas a partir deste encontro. É claro
que este caminho nunca pode ser feito sozinho, mas precisa ser enraizado numa
comunidade de fé, para que ela ajude o fiel a, juntos com os irmãos,“alcançar
Cristo” (Fl 3,12). Por isso, nós insistimos que os adultos, jovens e crianças da
nossa paróquia precisam participar ativamente de um grupo de catequese e de sua
comunidade.
A adúltera representa o outro grupo de pessoas que a Igreja
convida à conversão, os pecadores públicos. Jesus disse claramente que não são
os que têm (ou acham que têm) saúde que precisam de médico, mas os doentes; não
são os justos (ou os que acham ser) que ele veio chamar à
conversão, mas os pecadores (cf. Lc 5,31-32). São estas pessoas, que chegaram
ao fundo do poço e se reconhecem necessitadas de salvação que mais facilmente
podem encontrar Jesus ressuscitado no caminho da sua vida.
Nesta Quaresma, a Igreja, mais uma vez, chama todos à
conversão. Não apenas a uma mudança de comportamentos religiosos para se
tornarem “melhores” (“bons cristãos”), mas a uma mudança de mentalidade para se
tornarem homens e mulheres de fé, que têm coragem de seguir Jesus, mesmo quando
isto pode levar a perseguições.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
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